segunda-feira, 29 de março de 2010

Um dia a gente cria juizo...

Pudim....por Marta Medeiros.

Não há nada que me deixe mais frustrada do que pedir Pudim de sobremesa,
contar os minutos até ele chegar e aí ver o garçom colocar na minha frente
um pedacinho minúscula do meu pudim preferido.
Uma só.

Quanto mais sofisticado o restaurante, menor a porção da sobremesa.
Aí a vontade que dá é de passar numa loja de conveniência, comprar um pudim bem cremoso
e saborear em casa com direito a repetir quantas vezes a gente quiser,
sem pensar em calorias, boas maneiras ou moderação.

O PUDIM é só um exemplo do que tem sido nosso cotidiano.

A vida anda cheia de meias porções, de prazeres meia-boca, de aventuras pela metade.
A gente sai pra jantar, mas come pouco.

Vai à festa de casamento, mas resiste aos bombons.

Conquista a chamada liberdade sexual, mas tem que fingir que é difícil
(a imensa maioria das mulheres continua com pavor de ser rotulada de 'fácil').

Adora tomar um banho demorado, mas se contém pra não desperdiçar os recursos do planeta.

Quer beijar aquele cara 20 anos mais novo, mas tem medo de fazer papel ridículo.

Tem vontade de ficar em casa vendo um DVD, esparramada no sofá,
mas se obriga a ir malhar.
E por aí vai.

Tantos deveres, tanta preocupação em 'acertar',

tanto empenho em passar na vida sem pegar recuperação...

Aí a vida vai ficando sem tempero, politicamente correta e existencialmente sem-graça,
enquanto a gente vai ficando melancolicamente sem tesão...
Às vezes dá vontade de fazer tudo 'errado'.
Deixar de lado a régua,
o compasso,
a bússola,
a balança
e os 10 mandamentos.

Ser ridícula, inadequada, incoerente e não estar nem aí pro que dizem e o que pensam a nosso respeito.
Recusar prazeres incompletos e meias porções.

Até Santo Agostinho, que foi santo, uma vez se rebelou e disse uma frase mais ou menos assim:
'Deus, dai-me continência e castidade, mas não agora'...

Nós, que não aspiramos à santidade e estamos aqui de passagem, podemos (devemos?) desejar
vários pedaços de pudim, bombons de muitos sabores, vários beijos bem dados,
a água batendo sem pressa no corpo, o coração saciado.
Um dia a gente cria juízo.
Um dia...
Não tem que ser agora.

Por isso, garçom, por favor, me traga: um pudim inteiro um sofá pra eu ver 10 episódios do 'Law and Order',
uma caixa de trufas bem macias e o Richard Gere, nu, embrulhado pra presente.
OK?
Não necessariamente nessa ordem.

Depois a gente vê como é que faz pra consertar o estrago . .

terça-feira, 23 de março de 2010

Não gineteia velhices quem nasceu para ser guri...


Vô Juvêncio...
Embora o corpo judiado pela impiedade dos anos, sob o chapeú a melena e semblante de veterano, mas tem a alma potranca a escramuçar vida fora,
risca paleta do destino com destreza nas esporas.
Sabedoria de homem feito, inquietude de menino, mescla certezas esperanças sem nunca perder o tino, com cismas de payador faz dos versos oferenda e os entrega ao Rio Grande como se fosse encomenda...
O tempo passa e não volta qual o gado pra charqueada, assim só olha pra trás quem na vida não foi nada, anda pexando a idade estribado no que há em si, não gineteia velhices quem nasceu para ser guri!

( Julio Saldanha)


sexta-feira, 19 de março de 2010

Olhando aqui pro lado...




Descobri que já tenho tudo que me faz feliz:
minha família que é minha bússola, minha filha que me ensina a cada dia o quanto é bom ser criança e que não existe amor maior, meus amigos, que são meu termômetro e são os melhores amigos que eu poderia ter, o meu amor que me faz feliz e tem de mim o que é de mais puro, e meu jeito infinitamente particular, com o qual conquistei tudo que tenho hoje: minhas músicas, minhas festas, as pessoas que atraí para perto de mim, as horas e horas de conversas, os eternos segundos de silêncio que são sim necessários.
Eu me respeito, e já nem caibo mais dentro de mim, como digo eu vivo nos extremos não caibo no estreito.
Agradeço todos os dias por todas as pessoas que cruzam na minha vida, pois cada uma é única, e por mais que só passem pela vida da gente sempre deixam algo, um sorriso, uma lição...
Não busco nada de exagerado. Aliás, detesto essa palavra. Do contrário quero a paz, família e os amigos reunidos, o amor do lado, uma boa música, o conhecimento e a natureza. Sempre que longe dos meus, encontrei amigos, que iluminam minha vida, me pegam pela mão e me mostram o melhor caminho, (nem que seja pra guia até a barraca, né Jessica)
Agradeço a Deus o sorriso daqueles que me cercam, sempre tornam o dia único e bem mais feliz.
A minha felicidade realmente está nas pequenas coisas... Um pôr-do-sol já é o suficiente para me levar longe, e às vezes me perco no fantástico mundo da Manu.Tenho teses, métodos e fórmulas. Mas o que realmente me move é o desconhecido, a descoberta e a espontaneidade!

sexta-feira, 5 de março de 2010

Buscando ao entardecer um sonho além da cancela...


Quanta coisa nos revela uma paisagem de estrada, se a alma sabe ver e o coração sabe escutar...
(Rogério Melo)

Na paz do galpão...

A tarde cai, eu camboneio um mate
Junto ao braseiro do fogo de chão
O pai-de-fogo, puro cerne de branquilho
Queimando aos poucos na paz do galpão
O mesmo inverno coloreando o poente
Final de lida, refazendo o dia
Lá no potreiro meu baio pastando
No cinamomo um barreiro em cantoria
Por certo a tarde em outros ranchos da campanha
Por serem humildes tenham a paz que tenho aqui
Pois só quem traz sua querência dentro d'alma
Sabe guardar toda esta paz dentro de si
Encosto a cuia junto ao pé do pai-de-fogo
Chia a cambona repontando o coração
Nas horas mansas que a guitarra faz ponteio
Numa milonga pra espantar a solidão
É lento o tempo na paz do galpão
Ainda mais quando a saudade bate
As soledades vou matando aos poucos
Na parceria da guitarra e do mate
Então a noite se acomoda nos pelegos
Povoando os sonhos de ilusão e calma
Toda essa paz é um bichará pro inverno
Faz bem pro corpo e acalenta a alma.

Cesar Passarinho